este blogue fechou. mudámos de poiso...

este blogue fechou. mudámos de poiso...
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...e agora estamos aqui.
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Orientações bibliográficas e temáticas — mudaram para aqui . Basta clicar para fazer a sua pesquisa.
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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

boas vindas ao ano lectivo 2011/2012 e a todos os estudantes

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Este blogue pessoal foi construído pela V.ª Docente
para, temporariamente, servir o trabalho lectivo no ismt
enquanto não existia a página "on line" da mesma Docente (no sítio do instituto).
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Tal página — que já está construída —
vai estar disponível e acedível no "site" do ismt
pelo que, então,
este blogue deixará de ser necessário, o que acontecerá muito em breve.
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Os interessados, podem continuar a seguir as edições "on line" da V.ª Docente, nos outros 3 blogues que se manterão activos e que são:
sulmoura
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e com este mesmo nome, o novo doutamente que seguirá aqui .
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M.ª de
Fátima C. Toscano

sábado, 21 de fevereiro de 2009

boas vindas ao segundo semestre do ano lectivo 2008/2009 e a todos os nossos estudantes do ISMT

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Este blogue pessoal foi construído pela V.ª Docente
para, temporariamente, servir o trabalho lectivo no ismt
enquanto não exista a página "on line" da mesma Docente (no sítio do instituto).
Contudo o seu percurso termina aqui
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Os interessados, podem continuar a seguir as edições "on line" da V.ª Docente, nos seus outros 4 blogues que se manterão activos e que são:
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sulmoura
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emedeamar
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prsi-sociologiadaesperança
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e o novo doutamente que, com este mesmo nome, seguirá aqui .
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M.ª de Fátima C. Toscano

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

neste Natal: Grande Pessoa (A. Caeiro) pla Sábia Bethânia

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aqui se encerra este blogue: com a Fala de Pessoa pela Voz de Bethânia.
Votos de Natal de Paz para todos e todas.

(mais abaixo, ainda encontrarão algumas informações relativas à avaliação final das UCs deste 1.º semestre de 2008/2009).
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A V.ª professora.
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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

boas vindas ao ano lectivo 2008/2009 e a todos os nossos estudantes do ISMT

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Este blogue pessoal foi construído pela V.ª Docente
para, temporariamente, servir o trabalho lectivo no ismt
enquanto não existia a página "on line" da mesma Docente (no sítio do instituto).
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Tal página — que já está construída —
vai estar disponível e acedível no "site" do ismt
pelo que, então,
este blogue deixará de ser necessário, o que acontecerá muito em breve.
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Os interessados, podem continuar a seguir as edições "on line" da V.ª Docente, nos outros 3 blogues que se manterão activos e que são:
sulmoura
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e com este mesmo nome, o novo doutamente que seguirá aqui .
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M.ª de
Fátima C. Toscano

sábado, 8 de setembro de 2007

20 anos da Associação portuguesa de sociologia - Anália Torres, Setembro/2005

Sessão Comemorativa dos 20 anos da APS - 8 de Setembro de 2005 - Anália Torres
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Vinte anos da APS em Portugal
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Exmo. Senhor Presidente da República
Exmo. Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso
Exmª. Senhora Administradora da Fundação Calouste Gulbenkian
Exmo. Senhor Professor Ferreira de Almeida

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Senhores. Ministros
Senhores Embaixadores
Senhor Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Representantes de instituições

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Caros convidados e caros colegas
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Tenho o prazer de iniciar a cerimónia de celebração dos 20 anos da Associação Portuguesa de Sociologia. Deixem-me agradecer aos que quiseram contribuir para este nosso aniversário.
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Em primeiro lugar ao Sr. P.R. que mais uma vez nos honra com o seu alto patrocínio e com a sua participação activa. Os nossos Congressos têm beneficiado da sua participação e com ela do prestígio que a mais alta figura do Estado confere a uma área científica que vê assim reconhecida a sua relevância social e institucional. Em nome dos sociólogos portugueses quero manifestar-lhe o nosso mais vivo reconhecimento.
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Ao Presidente Fernando Henrique Cardoso – agradecer-lhe vivamente a disponibilidade, para no meio de uma agenda sempre carregada de inúmeras solicitações internacionais, ter encontrado tempo para participar neste comemoração. O Sr. P. testemunhou em 1985 a fundação da nossa Associação, na sua qualidade de então presidente da International Sociological Association. Estamos aqui, 20 Anos depois, para lhe dar conta do que entretanto se progrediu e se conquistou também com a sua ajuda.
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À Fundação para a Ciência e Tecnologia, representada aqui pelo seu presidente, Prof. Râmoa Ribeiro, que tem apoiado e patrocinado muitas das nossas iniciativas.
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À Fundação Calouste Gulbenkian com cujo apoio a APS sempre contou para diversas actividades de carácter científico e associativo. Foi aliás sempre esta a casa dos congressos da APS, com excepção dos últimos que se realizaram, por nossa iniciativa, fora de Lisboa.
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Ao Prof. Ferreira de Almeida sócio número 1 da APS e seu primeiro presidente – a quem coube a iniciativa de convidar o presidente F. Henrique Cardoso para testemunhar o nosso nascimento. Quisemos voltar aqui à memória do ponto zero.
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Agradecimentos são devidos também a todos os que tem contribuído para fortalecer a associação ao longo dos últimos 20 anos. Aos seus outros presidentes anteriores – José Madureira Pinto, Ana Nunes de Almeida e Carlos Fortuna e ao conjunto das suas direcções cujo trabalho, talvez menos visível, foi sempre indispensável. Eles conseguiram disponibilizar o seu tempo de voluntários, no meio de múltiplos afazeres académicos e profissionais, para dedicar à nossa vida colectiva.
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Aos sociólogos que nos seus diferentes campos profissionais – nas empresas, nas autarquias, na administração central - foram afirmando a profissão e respondendo na prática a perguntas difíceis e olhares cépticos com a sua criatividade e altos níveis de desempenho. Há trinta anos não era possível saber, em Portugal, o que era ser um profissional da sociologia. Foram estes pioneiros que marcaram a diferença e construíram uma identidade profissional, a fazer sociologia num caminho de prática, reflexão, tentativa e erro. São as caras menos visíveis para o grande público da sociologia portuguesa, porque estão dispersos por inúmeros domínios profissionais nas várias regiões do país, mas são e foram sem dúvida quem pôde reinventar a profissão.
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Para eles, tanto como os que trabalham no ensino e na pesquisa, a Associação tentou ser espaço fundamental de encontro e troca de experiências vertidas em inúmeros textos e publicações que hoje constituem um acervo de informação indispensável para qualquer jovem – ou menos jovem - que se interrogue sobre os saberes e os fazeres do sociólogo.
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A história da sociologia em Portugal, nos últimos 20 anos, é uma história feliz.
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É isso que eu julgo poderem vir a concluir comigo depois destes breves palavras mas é também isso que os olhares exteriores já nos têm revelado. No princípio de Agosto tive o privilégio de participar, em Miami, numa reunião de associações nacionais de sociologia de vários pontos do mundo e também de participar da centésima reunião da Associação Americana de Sociologia, em Filadélfia, e em ambos os fóruns foi claro o olhar que nos devolviam: curiosidade e admiração pelo tamanho, pelo vigor da nossa associação e pelos progressos e realizações da sociologia enquanto disciplina científica e enquanto profissão em Portugal. É sobre essa história que muito brevemente gostaria de vos falar.
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Já sabemos do aparecimento tardio da sociologia e da confusão atávica, no tempo da ditadura, entre sociologia e socialismo. Já sabemos que havia um pequeno grupo de pioneiros das ciências sociais que procuravam por entre inúmeras dificuldades, pesquisar e ensinar. Já sabemos que só depois de 1974 foi possível institucionalizar o ensino graduado e pós-graduado da sociologia em Portugal.
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Estes inícios muito tardios traduziram-se no enorme prejuízo que foi a falta de cumulatividade. Foi preciso praticamente investigar “tudo”. Mas o período em que se deu o arranque mais vigoroso da sociologia, por outras e inesperadas circunstâncias, teve também os seus efeitos positivos. Portugal era então um laboratório vivo de mudança social. Os nossos fundadores, com excelente formação teórica e metodológica, mas até então impedidos na prática de fazer pesquisa empírica, quiseram mergulhar rapidamente no estudo da realidade e transmitiram aos seus alunos a importância da investigação em todas as suas múltiplas formas e metodologias.
Esta conjugação de factores marcou, na minha opinião, tudo o que se seguiu. O bichinho da pesquisa, o contacto directo com o terreno, passaram a ser os melhores aliados na formação do sociólogo e o complemento indispensável de uma boa formação teórica.

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Os mais consagrados davam o exemplo. Tanto escreviam textos teóricos ou metodológicos densos, de sólida argumentação, como se envolviam, contaminando os mais novos, na pesquisa empírica. Davam tanta dignidade à procura de respostas para questões centrais da sociologia e da sociedade da época, como respondiam, através da pesquisa, às mais variadas solicitações. Não ficavam assim de fora nem a análise dos grandes processos macro sociais, nem a análise e intervenção sobre realidades de nível confinado e local, que alguns, sem qualquer razão, consideravam irrelevantes.
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Foi essa disponibilidade aberta que contribuiu para superar fronteiras e polémicas que em outros países pareciam estabelecidas e incontornáveis. Dicotomizar sociologia empírica e sociologia teórica, por exemplo, não fazia para nós, os que viemos a seguir, qualquer sentido. Cedo se percebeu que uma boa formação teórica constitui indispensável instrumento para enfrentar as múltiplas empirias de que as ciências sociais se ocupam.
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No plano metodológico fomos ensinados a desconfiar das guerras entre técnicas e de estéreis distinções entre quantitativistas e qualitativos. Motivaram-nos para o uso pleno de todas as técnicas, com o critério fundamental de adequar a metodologia a usar ao problema específico que se nos deparava. Quase todos, os dessas primeiras fases, fizemos de tudo – dos inquéritos por questionário às entrevistas, da pesquisa de terreno e da investigação-acção às mais sofisticadas análises estatísticas.
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No plano teórico, o período que se viveu também nos ajudou a superar alguns obstáculos. Aparecemos mais à luz do dia quando se iam esgotando as guerras de paradigmas – estruturas e práticas de um lado, simbólico, motivações e sentido subjectivo, por outro – e quando vários autores proponham abordagens de síntese. Também por aí poupámos tempo ao evitar o “ou/ou” de divisões e dicotomias artificiais e inoperativas.
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Tínhamos acesso à sociologia que se fazia em várias línguas e não devíamos obediência a uma escola teórica ou a um império regional – conhecemos a sociologia de língua francesa mas também inglesa, alemã, italiana e espanhola. Os que então nos ensinaram e orientaram, na sua maioria, recusaram impor uma disciplina de escola que obrigasse à replicação da voz do mestre.
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Outra marca da nossa formação inicial foi a defesa de uma sã convivência e respeito mútuo entre as diferentes áreas das ciências sociais. Factor facilitador desta visão foi certamente o facto de haver várias reconversões de outras formações iniciais à sociologia – colegas que vinham da economia, do direito, da engenharia, da filosofia, da história e das línguas. Não há nada mais redutor do que o sociólogo que julga que tudo começa e acontece no tempo que estuda, ou que não dê importância ao recuo histórico, ao papel da demografia ou às contribuições da boa tradição antropológica, da filosofia, da geografia, da ciência política ou da psicologia. Não significa isto nem o apagamento de fronteiras, nem a construção de muralhas. Mas só os que conhecem bem a sua área sabem os seus limites e onde os outros podem e devem entrar.
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Em síntese, boa formação teórica e metodológica, capaz de se renovar através da pesquisa, paixão pelo terreno, disponibilidade para produzir conhecimento e responder a todo o tipo de solicitações: da chamada investigação fundamental, às solicitações de pesquisa para objectivos específicos, à investigação-acção ou à prestação de serviços à comunidade. Entusiasmo pela área, abertura, sentido pioneiro de quem dá os primeiros passos. Foi essa a formação que recebemos e procurámos fazer frutificar.
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Mas houve ainda outro ou/ou que a comunidade sociológica inicial quis superar. Na verdade, os fundadores da nossa Associação quiseram constitui-la na dupla vertente científica e profissional, incluindo assim, desde logo, todos os que exercem a profissão de sociólogo dentro e fora do campo académico.
Ora esta escolha, na altura, não era nada óbvia. Havia de resto defensores de uma visão mais elitista de associação que apenas aí queriam os académicos. E também os que sustentavam uma lógica associativa mais estritamente corporativa e profissional. Venceu a cultura que associa ciência e profissão com os efeitos positivos que hoje se reconhecem.

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Vejamos alguns números. Temos um universo de 6 mil pessoas que se afirmam profissionalmente como sociólogos e a APS tem hoje cerca de 2 mil sócios. Com metade dos sócios em 1996 já ocupávamos o 5º lugar no conjunto das associações filiadas na ISA. Somos assim, hoje ainda mais do que há dez anos, uma das maiores associações de sociólogos do mundo, o que tem algum significado dada a dimensão do país.
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Os sociólogos portugueses conseguem uma alta taxa de empregabilidade. As autoavaliações das licenciaturas de sociologia recentes – que se referem até ao ano de 2002 - confirmam, de resto, dados anteriores do Observatório para as Saídas do Ensino Superior. Um sociólogo, depois de ter terminado a sua licenciatura, leva em média até 6 meses a entrar no mercado de trabalho.
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Já em 2005 tive a oportunidade de arguir uma tese de mestrado sobre a inserção dos licenciados de sociologia na Universidade de Évora que confirma estes dados e ainda acrescenta outros interessantes. Aí se concluía, por exemplo, que os estágios profissionais são uma das principais formas de obter emprego. O que mostra também com grande eloquência, que as competências adquiridas estão globalmente ajustadas às necessidades práticas e que se os empregadores têm inicialmente dúvidas sobre o que podem fazer os sociólogos, elas são desfeitas no confronto com a experiência da sua actividade.
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No ciclo Ciência e Profissão que organizámos entre 2003 e 2005, percorrendo as cidades do País onde há licenciaturas, confirmámos bem esta percepção que tínhamos sobre o trabalho de jovens e menos jovens sociólogos afirmando a sua profissão de Évora à Covilhã, do Porto a Coimbra, do Algarve a Ponta Delgada a Braga ou a Lisboa. A experiência ultrapassou claramente as nossas expectativas e mostrou como nas empresas, na administração local e central, ou em organizações não governamentais, os sociólogos contribuem com as suas competências para o desenvolvimento e criação de riqueza nas suas regiões. Mas este trabalho tem escassa visibilidade para o exterior, não é falado, não vem nos jornais. Daí que se passe um fenómeno estranho: embora não haja cenários cor-de-rosa, e persistam dificuldades que exigem um enorme esforço, empenhamento e mesmo imaginação por parte dos sociólogos, a realidade da sua inserção profissional, que se expressa nos números de que falei atrás, é bem melhor do que parece.
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A empregabilidade dos sociólogos, de resto, pode ser explicada em grande parte também pela conjugação de dois factores: por um lado, as exigências que se colocaram ao país depois da adesão à Comunidade Europeia e por outro à evidente falta de quadros qualificados. Com efeito, necessitámos a partir de 1985 de um conjunto de instrumentos estratégicos de planeamento, intervenção, investigação e avaliação ao nível central, regional e local, que tornaram evidentes e necessárias as competências dos sociólogos. Isso mesmo se tornou particularmente claro no início dos anos 90, quando alguns de nós participaram em projectos de investigação-acção no domínio da avaliação, do desenvolvimento regional e local ou de luta contra a pobreza. E ficou ainda mais nítido quando já nos finais de 90 várias políticas públicas tiveram na sua base o trabalho dos sociólogos.
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Ora também sabemos que houve em Portugal desperdício e devolução de fundos, circunstância infeliz que também se deverá à nossa falta de quadros qualificados e no lugar certo. Temos agora metade dos licenciados da média europeia – valor ainda muito menor há 20 anos atrás – e apenas 1/3 da média europeia em termos de diplomados com o ensino secundário. Para além da falta de quadros, nalgumas zonas do país, mais a norte do que a sul, são ainda prevalecentes em muitas autarquias lógicas clientelares com ausência de visão sobre as reais necessidades das populações, nem exigência de qualificação técnica para planear, organizar e desenvolver. É o Portugal pré-moderno, que ainda pensa numa formação escolar como aquisição de estatuto e não como aquisição de competências. Vale a pena salientar de qualquer forma que já se encontram câmaras municipais exemplares que recorrem sistematicamente aos saberes técnicos.
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É certo que Portugal tem encruzilhadas específicas nos processos de transformação social. Quando começámos a ter os chamados “novos pobres”, frutos do desemprego tecnológico, tínhamos ainda percentagens muito significativas de “velhos pobres”. Quando começou na Europa o retraimento e desinvestimento no Estado-Providência, estávamos a procurar começar o que nunca tinha existido. Conjunturas históricas e sociais específicas que deixam fortes traços na nossa vida colectiva.
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Os avanços feitos no domínio científico no campo da afirmação da sociologia são também importantes. Há obviamente o trabalho, também muitas vezes invisível para o exterior, dos construtores das instituições e dos departamentos de sociologia, do ensino graduado e pós-graduado e da pesquisa. De zero em 1974 passamos a 8 licenciaturas em Universidades públicas e múltiplos programas de estudo pós-graduado nos dias que correm. Quanto à investigação, as muitas instituições de pesquisa ligadas às universidades foram desenvolvendo produção crescente e relevante, publicada em livros e em revistas internacionais e nacionais. Mas é também sintoma dessa vitalidade o que se passou no último congresso organizado pela APS, o 5º, realizado na Universidade do Minho, em Braga.
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O número de participantes (1700) foi o maior de sempre e houve o maior afluxo de comunicações da história dos nossos congressos: 386 comunicações aceites tendo sido enviadas 2/3 das intervenções previamente por escrito a maioria das quais se pode ter acesso directo através do site da APS. A sua distribuição pelos domínios do conhecimento sociológico é equilibrada e cobre temas muito variados: artes e culturas, recomposições sociais, exclusões, cidades, campos e territórios, justiça, cidadania e políticas, famílias, género, corpo e sexualidades, saúde, emprego e trabalho, contextos organizacionais, ambiente, migrações e etnicidades, crenças e religiosidades, direito, crime e dependências, ciência e conhecimento, identidades e estilos de vida, educação e aprendizagem, populações, gerações e ciclos de vida, regionalização, media e comunicação.
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O pluralismo teórico – tendência hoje dominante na sociologia europeia e americana - é também a tónica mais forte da sociologia portuguesa. Ultrapassada a fase de luta inter paradigmática, tendem a conviver posições de síntese entre paradigmas antes antagónicos, ou programas de investigação com perspectivas que se vão enriquecendo através da contínua aferição das hipóteses de investigação no processo da pesquisa.
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Coexistem posições teóricas, e perante a pesquisa, diferentes. Isso não significa ausência de crítica, debate e controvérsia – estas paredes já foram testemunhas desses episódios - sem os quais de resto o conhecimento científico não progride. No conselho consultivo da APS estão seguramente dos mais prestigiados sociólogos portugueses, com diversas posições teóricas, dos mais mediáticos aos que têm assumido sempre low profile em termos de exposição pública. A APS tem funcionado também como local de interface intergeracional. O esforço de internacionalização, que consideramos ser dever também da APS, tem de ser intensificado junto dos mais jovens.
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Este desenho que corre o risco da auto-glorificação não deixa em todo o caso de revelar também fragilidades e problemas, sobretudo no plano institucional. As carreiras dos professores universitários e investigadores estão praticamente bloqueadas tal como os novos acessos. A não se alterar esta situação dificilmente poderemos renovar-nos e corresponder aos chamados desafios da sociedade de informação e do conhecimento, tão bem desenhados pela presidência portuguesa na Cimeira de Lisboa.
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Há diferentes formas de fazer sociologia, ou se quisermos dizê-lo de outra forma, existe uma divisão do trabalho no interior da disciplina, em modalidades todas elas necessárias e complementares entre si. Quem defendeu esta ideia foi Michael Buroway, no seu discurso como presidente da Associação Americana de Sociologia em 2004. Há uma sociologia chamada “académica” (professional sociology) que se faz nas universidades e centros de investigação, que produz teorias e as procura validar através da pesquisa, fornecendo instrumentos às outras formas de intervenção sociológica. Há a sociologia das “políticas” (policy sociology) mais voltada para responder a pedidos específicos de âmbito internacional, nacional, regional ou local e para prestar serviços, públicos ou privados, de produção de conhecimentos. A sociologia “pública” (public sociology) é aquela que se preocupa com a imagem no conjunto da sociedade do trabalho sociológico, insistindo na apresentação dos seus resultados, de forma acessível e transparente, mas também aposta no ensino e na publicação de livros que podem abranger públicos vastos. E há ainda a sociologia crítica (critical sociology) que se ocupa da reflexão sobre o próprio trabalho da disciplina, dos debates entre programas de investigação e entre teorias.
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Parece uma boa maneira de classificar os vários domínios do trabalho sociológico, que afasta também dilemas de tipo ou/ou, se insere numa lógica de complementaridade entre diferentes maneiras de praticar a disciplina e legitima diferentes escolhas individuais.
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Vale a pena referir, ainda a propósito da Associação Americana de Sociologia, a qual agrega 14 mil membros, alguns outros dados. Há cerca de 200 revistas científicas de sociologia nos EUA, e sendo certa a existência de revistas mais prestigiadas do que outras, recusam-se classificações e hierarquias rígidas. As especificidades das realidades que estudamos impõem que se articulem questões de nível local, regional e global e também que a sua transmissão seja feita por múltiplos canais. A existência de apenas um conjunto limitado de revistas de referência, como acontece noutras áreas científicas, tornaria impossível essa comunicabilidade. Sendo obviamente o inglês uma língua de trabalho essencial, faz-se boa sociologia em várias línguas e há na Europa, e noutros continentes, autores e trabalhos fundamentais que é decisivo não ignorar, sob pena de uma visão afunilada e distorcida das realidades do mundo contemporâneo.
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Não será preciso também grande esforço para perceber que muitos dos problemas das sociedades contemporâneas estão em íntima conexão. O 11 de Setembro e os acontecimentos subsequentes mostram à evidência ser necessário, para perceber o que se possa cá, à nossa porta, compreender também as realidades que se vivem lá, noutros destinos e latitudes.
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Esta atenção a diferentes realidades e às mudanças que se vão operando é fundamental no trabalho sociológico. Certos movimentos sociais e reivindicações, como, por exemplo, a questão da igualdade entre homens e mulheres, tornada mais efectiva pela pressão e protagonismo das mulheres do século XX, impõe novos olhares à própria disciplina. E se neste movimento houve momentos decisivos, mais ou menos espectaculares, e protagonistas fundamentais, o que é mais relevante é esta espécie de revolução silenciosa, ou maré crescente, como alguns títulos de livros sugerem. Por sua iniciativa própria, vencendo muitas vezes enormes barreiras, as mulheres começaram o século XX com taxas de ileteracia altíssimas e acabam-no, as mais jovens, em vantagem em termos de formação escolar relativamente aos seus congéneres masculinos.
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Certas realidades obedecem a um duplo registo. Da mesma forma que alguns fenómenos têm dimensão espectacular, também há processos menos visíveis, que já lá estavam, mas que só de súbito se revelam aos olhos do mundo e de forma incontornável. O caso recente do Katrina tornou mais evidente, para todos, a realidade da pobreza nos EUA.
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E podemos definir também dois tipos de tempo. Um lento, surdo, que podemos designar de ordem estrutural das coisas, que deixa marcas e nós problemáticos difíceis de resolver. Os nossos atrasos no plano da formação escolar e no desenvolvimento, remetem para processos desta natureza. Mas depois há o tempo rápido, a dimensão da velocidade quase vertiginosa, que mostra o que estava adquirido e deixa de estar. Os dois tempos conjugam-se porém. Estes são alguns dos paradoxos das sociedades de modernidade tardia.
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E como será daqui a 20 anos? Precisaria como é evidente de muita imaginação sociológica para responder a esta questão. Mas posso formular desejos. Espero assim que uma celebração evocativa deste tipo se venha a realizar. Porque também para compreender aquilo que é verdadeiramente novo é preciso não perder o fio da memória.
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quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Leveza - Italo Calvino

CALVINO (1994), Italo. Seis propostas para o próximo milénio. (Lições americanas). Lisboa, ed. Teorema, 2ª. ed. (1ª. ed. itª.:1990, Garzanti Editore, spa), trad. de José Colaço Barreiros, 1 - Leveza: p. 15-44.
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« Nas alturas em que o reino do humano me parece mais condenado ao peso, penso que (...) deveria voar para outro espaço. Não estou a falar de fugas para o sonho ou para o irracional. Quero dizer que tenho de mudar o meu ponto de vista, tenho de observar o mundo a partir de outra óptica, outra lógica, e outros métodos de conhecimento e de análise. » (p. 21).

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« Mas se a literatura não basta para me garantir que não ando só a perseguir sonhos, procuro na ciência alimento para as minhas visões em que se dissolve todo o peso...
Hoje em dia todos os ramos da ciência parecem querer demonstrar-nos que o mundo assenta em entidades delicadíssimas: tal como as mensagens do ADN, os impulsos dos neurónios, os quarks, os neutrinos vagueando pelo espaço desde o princípio dos tempos...
E também a informática. É verdade que o software não poderia exercer os poderes da sua leveza senão por meio do peso do hardware; mas é o software que comanda, que actua sobre o mundo exterior e as máquinas, que só existem em função do software, evoluindo de modo a elaborar programas cada vez mais complexos. A segunda revolução industrial não se apresenta como a primeira com imagens esmagadoras como prensas de laminadoras ou torrentes de aço, mas sim como os bits de um fluxo de informação que corre por circuitos sob a forma de impulsos electrónicos. Continuam a existir máquinas de ferro, mas obedecem aos bits sem peso.» (p. 21-22). (vejam também p. 26).

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« Assim, temos de recordar-nos de que se nos impressiona a ideia do mundo constituído de átomos sem peso é porque temos a experiência do peso das coisas; tal como não poderíamos admirar a leveza da linguagem se não soubéssemos admirar também a linguagem dotada de peso.» (p.29).

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«...duas vocações opostas disputam o campo da literatura através dos séculos: uma tem a tendência para fazer da linguagem um elemento sem peso, que flutua por sobre as coisas como uma nuvem, ou melhor, como uma finíssima poeira, ou melhor ainda como um campo de impulsos magnéticos; a outra tende a comunicar à linguagem o peso, a espessura, a concreção das coisas, dos corpos e das sensações.» (p. 29, subl. n.).

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« A leveza para mim está associada à precisão e à determinação, e não ao vago e abandonado ao acaso.» (p. 30).

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« Creio que é uma constante antropológica este nexo entre a levitação desejada e a privação sofrida. É este dispositivo antropológico que a literatura perpetua.» (p.42).

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